terça-feira, 24 de setembro de 2013

Estudo: Rio Cocó está 100% poluído


24.09.2013 -
semace

Pesquisa é referente ao mês de maio deste ano e avaliou o manancial em oito pontos, desde a sua nascente
O desrespeito ambiental sem precedentes coloca em xeque o principal recurso hídrico de Fortaleza, o Rio Cocó. Estudo mais recente da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) aponta que o manancial está 100% poluído. A análise foi realizada em maio passado pelo Programa de Monitoramento e levou em consideração seis dos oito pontos acompanhados quatro vezes por ano pelo órgão. Dois deles, localizados em trechos do rio, nas avenidas Murillo Borges e Sebastião de Abreu, estavam com alto grau de eutroficação (excesso de aguapés e algas), o que impediu até a coleta da água nesses pontos pelos técnicos para análise.

Além dos aguapés, quem passa pelo trecho da Av. Raul Barbosa observa o baixo volume de água do Rio, que ocorre devido à sujeira FOTO: NATINHO RODRIGUES

Segundo a Semace, entre os principais agentes poluidores estão os esgotos clandestinos e o despejo irregular de lixo. Quem mora próximo às margens do rio sabe bem o que é poluição. "Antigamente, dava até para a gente tomar banho, pescar uma boa quantidade de peixes, mas de uns tempos pra cá, a água está escura, às vezes cheia de aguapés e tem um cheiro meio estranho", aponta o aposentado Sebastião Lima de Silva, morador da Rua dos Manguesais, no São João do Tauape.

No fim do ano passado, na última avaliação feita pela superintendência, o grau de poluição do Rio Cocó era de 87,3%. Dos oito trechos analisados, em seus 50 quilômetros de extensão, apenas a nascente, na Bica das Andreias, em Pacatuba, estava própria para banho.

Atualmente, a balneabilidade ainda é verificada, mas o nascedouro já marca 15,79% de contaminação e está em desacordo com a legislação vigente. "Todos os pontos estudados do rio estão atualmente em discordância com o que estabelece o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), Lei 357/2005", afirma a gestora ambiental da Semace, Janelane Coelho da Rocha. A próxima análise será divulgada no fim do ano pela Semace.

Lixão

Durante o monitoramento, 19 parâmetros são computados como o número de coliformes fecais, fósforo, nitrato, magnésio e amônia, entre outros. De acordo com o estudo, o trecho do manancial na Avenida Perimetral, nas proximidades do antigo lixão, o grau de poluição chega a 36,8% ou seja, dos 19 itens, sete estavam em desacordo com a lei ambiental. Na foz do rio, no Caça e Pesca, também foi constatada limite acima do desejável em 31,5% dos pontos analisados. Outro local que merece alerta fica localizado na Avenida Paulino Rocha. Sem falar dos trechos na Murillo Borges e Sebastião de Abreu onde a água nem pode ser coletada.

A Semace monitora a qualidade do recurso hídrico a cada três meses, em oito pontos: na nascente, no município de Pacatuba; antes do Jangurussu, na Avenida Perimetral; depois do Jangurussu; na BR-116, próximo ao Makro; no Lagamar, na Avenida Raul Barbosa; na ponte da Avenida Engenheiro Santana Júnior; no Parque do Cocó, na altura da Sebastião de Abreu; e na sua foz, no Caça e Pesca.

Com relação aos esgotos clandestinos, uma parceria entre a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) garante uma fiscalização mais rigorosa de quem tem ligação irregular tanto direto em rios, lagoas e riachos como na rede de drenagem. "A multa varia e pode ir até R$ 50 milhões", informou a titular da Seuma, Águeda Muniz.

Além dos aguapés, quem passa pela Avenida Raul Barbosa observa outro problema com o Rio Cocó: o volume de água. Tanto que as faixas de terra, antes escondidas pelo alto nível da água agora estão bem visíveis. Embora a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e Semace não tenham estudos específicos sobre a questão e nem a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (SRH) se posicionou, os bancos de areia, a sujeira e a falta de cuidados estão à vista de quem observe.

Apesar de a falta de chuva contribuir para essa diminuição, o geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, destaca que o principal motivo é mesmo a qualidade da água, que é ruim. O solo, explica ainda o professor, que já absorveu toda a água boa, absorve, também a ruim, na tentativa de encontrar algum nutriente, o que resulta num baixo nível da água.

Conforme Meireles, é normal os rios secarem em período de pouca chuva. Porém, os rios Cocó, Maranguapinho e Ceará são regidos pelas marés, então, nunca secam, por completo, embora o nível de água caia. "Os rios que se aproximam ou estão dentro da região metropolitana recebem grandes quantidades de esgoto, um dano extremamente grave para o ecossistema, já que isso resulta numa água de qualidade ruim", diz o geógrafo.

FIQUE POR DENTRO

Manancial passa por outros dois municípios

O Rio Cocó nasce na vertente oriental da Serra da Aratanha e, nos seus 50 quilômetros de percurso, passa por três municípios - Pacatuba, Maracanaú, além de Fortaleza - para desaguar no Oceano Atlântico, nos limites das praias do Caça e Pesca e Sabiaguaba.

O Parque Ecológico do Cocó, área de lazer localizada no Rio Cocó, é considerado um dos maiores parques urbanos da América Latina e compreende um total de 1.155,2 hectares. Naquele local, é permitida a visitação pública, através da realização de atividades voltadas à educação ambiental, lazer, além de pesquisa científica e eventos sociais.

LÊDA GONÇALVESREPÓRTER

 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1321161
 

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